O futuro é mais que digital, é pessoal

O futuro é mais que digital, é pessoal

Esta semana, fiz uma viagem no tempo. Voltei a 1994, quando nasciam, ao mesmo tempo, a internet e a minha empresa, a AMT.  A convite de Lindália Junqueira e na companhia de Lyzbeth Cronembold (CEO da Changers Digital), Dorian Guimarães Lacerda (fundador e CEO da ISAT), e Ernesto Haberkon (Co-Fundador da TOTVS) participei de um painel do Hacking.Rio justamente para falar sobre o avanço da tecnologia e da sociedade ao longo do tempo. 

Resgatei da memória que, lá no início, fomos escolhidos pela Embratel, na época empresa estatal do Sistema Telebras,  para integrar um grupo de cinquenta empresas e trazer a internet comercial para o país. Eu já acreditava que as empresas precisavam se transformar para tirar o máximo proveito da tecnologia e daquela que se provaria uma das maiores inovações – e revoluções – de todos os tempos: a internet. 

Sempre trabalhamos orientados a processos e ao entendimento profundo da dinâmica de negócios dos nossos clientes. 

O primeiro setor com o qual tivemos uma identificação muito grande foi o da indústria fonográfica, que, na década de 90, vivia um ciclo de prosperidade muito interessante. 

A internet chegou logo depois que  entrou em cena a mídia digital dos CDs e DVDs,  na década de 1990. A mídia digital trouxe um som mais puro e facilidades até então inéditas para quem estava acostumado aos discos de vinil. Tudo bem que havia a fita cassete, mas não era a mesma coisa; no analógico, a qualidade se degradava nas cópias. O fato é que se criou uma demanda gigantesca pela digitalização dos discos de vinil. Como o grande custo da indústria era de lançamento do artista, o relançamento dos títulos consagrados em CD gerou uma onda de prosperidade imensa para o setor fonográfico. 

A janela de prosperidade fechou nos anos 2000 tão rapidamente quanto surgiu. A onda desapareceu com o aparecimento do conceito trazido por empresas como o  Napster, que faziam a distribuição via internet das músicas. Mesmo com todas as questões legais, ficou claro que o caminho não seria mais o da mídia física. Foi uma reviravolta na indústria, que passou a se concentrar na edição musical, isto é, nos royalties das músicas. 

Puxei da memória este exemplo, dentre tantos outros que acompanhamos ao longo dos últimos 25 anos, para ilustrar os efeitos de uma transformação em um mercado. Ninguém parou de consumir música , muito pelo contrário. A mídia digital, além de várias vantagens, também  trouxe desafios como o combate à nociva pirataria que se intensificou com a internet. Trazendo a conversa para os dias de hoje, o que estamos vendo é que a velocidade destas transformações aumentou exponencialmente para tudo.

Em quatro meses, setores como o de alimentação fora de casa precisaram se reinventar. Da mesma forma que os  direitos sobre as músicas se tornaram uma questão central com a transformação digital do setor fonográfico, o delivery entrou definitivamente na agenda estratégica dos restaurantes, só para citar um exemplo das mudanças atuais nos mercados. Continuamos nos alimentando , mas muito mudou com o delivery para os consumidores e para os restaurantes. 

Com o isolamento, a tecnologia está sendo usada para aproximar. Isso também se reflete nos negócios. Aprendemos a perceber melhor as empresas que se mostram próximas a seus clientes. Isso se confirma em um  dos efeitos mais interessantes que eu estou observando neste exato momento. É a parte dos relacionamentos humanos também nos negócios. Ficou muito claro que as pessoas precisam confiar cada vez mais nas empresas com as quais se relacionam. Neste contexto, empresas menores, locais, próximas, tendem a assumir uma posição de protagonismo nos seus mercados. Elas são mais ágeis, adaptáveis, flexíveis e vão ser cada vez mais relevantes, desde que consigam entender seu cliente e garantir a tranquilidade necessária para que ele possa se dedicar ao que for mais importante para o seu negócio e delegar o restante. É nisso que nós acreditamos, é assim que temos atuado – e crescido, ano a ano. 

A meu ver, a confiança será o maior vetor para a inovação, uma vez que não existe colaboração sem confiança, nem inovação sem colaboração. Como muitos acreditam, parece que estamos entrando numa nova era de aproveitamento maior de todo o nosso poder mental e de construção de relações sólidas de parceria, de amizade, de fraternidade. Tomara!