Google e Apple unidos contra o coronavírus

Google e Apple unidos contra o coronavírus

Por  Marcio Lacs
CEO da AMT 
 

 

Em abril, as duas gigantes de tecnologia, que juntas respondem pelo sistema operacional de 99,5% dos dispositivos móveis do mundo, anunciaram a criação de uma fundação para desenvolver soluções para rastrear pessoas infectadas por coronavírus.

É muito interessante ver rivais bilionárias cooperando por algo que de fato é muito maior que qualquer concorrência. Por outro lado, esta união levanta uma questão importante sobre privacidade e outra sobre segurança.

 

A privacidade será preservada? 

A princípio, a liberação das APIs (interfaces de programação), que vai permitir a operação conjunta entre os dois sistemas, dará às autoridades ligadas à saúde pública a possibilidade de desenvolver soluções de prevenção e emitir alertas para quem tiver tido contato com uma pessoa contaminada. Até aí, tudo bem. Mas e se o monitoramento de mais de 5 bilhões de pessoas for usado de outra forma, limitando liberdades individuais para privilegiar o interesse coletivo? 

As duas empresas garantem que a privacidade será preservada e que a coleta e o compartilhamento das informações passará obrigatoriamente pelo consentimento individual prévio. O app emitirá alertas apenas para os usuários que, nos últimos 14 dias, tiverem tido contato com uma pessoa que tenha informado ao sistema que foi infectada pelo coronavírus. Ainda não se sabe se haverá algum mecanismo para a conferência das informações – isso vai depender das políticas de saúde de cada país. 

A Associação de Liberdades Civis dos Estados Unidos se manifestou nas redes sociais defendendo que a ação conjunta das empresas precisa mostrar como vai assegurar a privacidade dos cidadãos: “A informação não pode ir para um governo ou para qualquer companhia e a escolha de usar ou não esse sistema deve ser inteiramente nossa”. 

 

A segurança será garantida? 

A segurança é sempre uma preocupação quando se abre novas portas de acesso a um dispositivo. De acordo com as duas fabricantes, o quesito segurança será um ponto forte do sistema de alertas compartilhado: serão usadas chaves diárias e temporárias, que mudam a cada cinco minutos. Assim, o acesso à localização e à identidade dos usuários dos celulares será evitado, garantem. Além disso, o uso do bluetooth (que tem um alcance restrito a 10 metros, sem barreiras) cria um limite natural para uma eventual tentativa de rastreamento forçado e não consentido dos celulares e garante uma informação mais precisa do que as antenas de telefonia, sinalizando distâncias inferiores aos dois metros recomendados. 

Em uma primeira etapa, o trabalho será concentrado nos aplicativos que poderão funcionar em todos os celulares que tiverem um dos dois sistemas operacionais. Já numa segunda etapa, a ideia é lançar uma plataforma de rastreamento embarcada nos sistemas operacionais, dispensando a necessidade de o usuário baixar o aplicativo para participar. 

 

União Europeia e Estados Unidos vão adotar a mesma solução? 

Além de colocar do mesmo lado da trincheira os arquirrivais, a guerra contra o coronavírus pode gerar um alinhamento igualmente raro entre a União Europeia e os Estados Unidos. De acordo com a agência Reuters, o padrão comum que estava sendo objeto de debates entre especialistas europeus – Rastreamento Pan-Europeu de Proximidade e Preservação da Privacidade (PEPP-PT) – pode dar lugar à solução proposta pelas empresas americanas.  

 

O papel da tecnologia

A tecnologia pode – e vai! – ser um importante aliado nos esforços de preservação da saúde das pessoas no mundo inteiro. Só é importante garantir o uso adequado e seguro e o respeito absoluto à privacidade.